domingo, julho 16, 2006

Alentejo

Tem esta província um fundo lastro cultural. Tem esta província uma longa crónica de amarguras e odisseias, mas preversamente enfrentadas com raro estoicismo e não menos rara dignidade, timbres do homem alentejano, como se testemunham nas personagens que habitam a nossa literatura. Tem esta província uma noção muito sua de espaço e do tempo. Nunca, como aqui, me foi dado aperceber tão soberano desdém pela impaciência, pelo falso, pelo efémero. Esta província, onde até o silêncio é altivo e o labor solene, sempre reservou e reservará surpresas a quem terá ignorado o que nela é identificação quase mística com o que, nas coisas e nos seres, existe de incompatível com a frenética alienação do transitório.

Fernando Namora, “Dispersos II”

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