quinta-feira, junho 30, 2011

F(I)Mi


Perante esta dupla loucura dos trabalhadores, de se matarem com excesso de trabalho e de vegetarem na abstinência, o grande problema da produção capitalista já não consiste em encontrar produtores e decuplicar as suas forças, mas em descobrir consumidores, em excitar os seus apetites e criar-lhes necessidades fictícias.
Paul Lafargue (1842-1911), “O Direito à Preguiça”

domingo, junho 26, 2011

A linguagem da guitarra de Hendrix


Para além de Thomas Mann, que outros escritores são referências fundamentais para o seu trabalho?
Virgina Woolf, claro. Sobretudo pelo trabalho da linguagem, porque até ter lido Virginia Woolf não tinha a menor ideia daquilo que se podia fazer com uma frase. Estudei numa escola pública, em Los Angeles, e os meus professores não foram extraordinários. Digamos que, até uma certa altura, apenas estava familiarizado com as frases declarativas mais básicas. E foi nessa altura que alguém me ofereceu Mrs. Dalloway, e percebi que era possível fazer coisas extraordinárias com a linguagem. Era um miúdo e a ideia com que fiquei foi que o que a Virginia Woolf fazia com a linguagem era parecido com o que Jimmy Hendrix fazia com a guitarra, e isso marcou-me muito.
Michael Cunningham, em entrevista a Sara Figueiredo Costa [Ler n.º 101, Abril 2011]

terça-feira, junho 21, 2011

Uma ideia de futuro!


Uma ideia de futuro não terá necessariamente de ser nova, nanotecnológica ou macroeconómica. Poderá ser um conceito simples, como a responsabilidade social – não num restrito cumprimento de obrigações cívicas e civilizacionais, mas num sentido lato que nos compele a deixar o mundo melhor do que o encontrámos e nos faz sentir responsáveis por todos os que nos rodeiam. E eles por nós.
Nuno Guerreiro Josué, tradutor e jornalista [Ler n.º 100, Março 2011]

domingo, junho 19, 2011

Partir...


Como de costume, às oito, o sol começou a entrar pelo quarto dentro. Mas já não pôde, à semelhança das mais vezes, descer ao peitoril da janela, inundar o soalho, subir à cama, devorar pouco a pouco a colcha branca, incendiar um naco do cobertor vermelho, e acabar por bater-lhe em cheio nas meninas dos olhos. Hoje um e logo a seguir o outro, tinham partido.
Miguel Torga, conto “O Estrela e a Mulher” in “Rua” (1942)

segunda-feira, junho 13, 2011

sonhador, fraterno, anarquista, amoroso dos lírios do vale e das aves do céu, inútil, sobretudo inútil


Saudou-se muito, como um grande progresso para católicos, o único rebanho que ainda mantinha no a que chamam religião alguma coisa do que o cristianismo foi de início, isto é, oriental e mediterrânico, contrapondo-se ao protestantismo, geométrico, moral, cesarista, capitalista e útil; saudou-se, pois, muito, a sua modernização, quero eu dizer a sua falta de coragem para se manter o que sempre deveria ter sido, sonhador, fraterno, anarquista, amoroso dos lírios do vale e das aves do céu, inútil, sobretudo inútil; tudo foi feito de muito boas intenções, as tais, mas lá se foi por S. Paulo, Constantino e Lutero.
Agostinho da Silva, «Quinze princípios portugueses», “Espiral”, n.º 8-9 (Inverno de 1965)

terça-feira, junho 07, 2011

Pensamento mágico


Os europeus têm ainda o mesmo pensamento mágico que os faz ir a Fátima de joelhos para resolver problemas. Mas não quero reproduzir o tipo de preconceito que eles cometem quando falam sobre as coisas primitivas de África.
Mia Couto [Ler n.º 84, Outubro de 2009]

sábado, junho 04, 2011

Sem contra-indicações



A leitura, para mim, é talvez a droga mais saudável que existe. Traz-nos euforia, cria-nos dependência, mas o único risco que corremos é ampliar a nossa visão do mundo. E isso, que eu saiba, não tem contra-indicações.
Ana Margarida de Carvalho [Ler, 1996]

quarta-feira, junho 01, 2011

Em busca do essencial...






O problema do homem de hoje é ter o supérfluo, não tendo o essencial.
Fernanda de Castro, “Ao Fim da Memória I 1906 – 1939”