domingo, abril 28, 2013

Douro sublimado


S. Leonardo de Galafura, 8 de Abril de 1977 – O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta».
Miguel Torga, "Diário XII"

sexta-feira, abril 19, 2013

A intenção


Àparte outras coisas mais simpáticas, o casamento é a transformação de um sentimento privado numa obrigação pública. Este ou esta amar aquela ou aquele por todo o sempre com a exclusão de todos os outros e de todas as outras. Quem alguma vez tenha amado sabe perfeitamente que é isso que apetece, que o amor é eterno e único durante algum tempo. E depois logo se vê. Mas essa é a melhor justificação que pode haver para o casamento. A intenção.
Hélder Macedo, “Solteiros e casados”, “JL” n.º 1106