quinta-feira, maio 30, 2013

Amanhar, sulfatar, camear, desbagoar, cavar...

A Primavera não concedia tréguas. Era preciso amanhar a terra, sulfatar, camear, desbagoar e cavar à volta de cada cepa a fossa que reteria a água das últimas chuvadas; podia não cair nem mais uma gota de água até Setembro.
Suzanne Chantal, “Ervamoira”

quinta-feira, maio 16, 2013

Cabral sabia...




Cabral sabia. E insistiu, previu, preveniu: «libertação nacional, luta contra o colonialismo, construção da paz e progresso, independência – tudo isso são coisas vazias e sem significado para o povo se não se traduzem por uma real melhoria das condições de vida.» (“Destruir a economia do inimigo e construir a nossa própria economia”)
António E. Duarte, “A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa”

domingo, maio 05, 2013

Enfermo


 - Ainda a doença é uma bondade de Deus, Filipe. No nosso ser acordam as pequeninas almas a que não se presta atenção quando se está de boa animalidade. Podia eu alguma vez julgar que até no voo das gaivotas está desenhado o hieróglifo da Divina Graça!? Ao enfermo, porque não tem que fazer, sobra-lhe tempo para dar volta à casa. À casa interior, bem entendido. Que coisas, mal arrumadas umas, imprevistas outras, que ocas e teias de aranha pelas paredes, se não descobrem!? O homem sadio é o que menos se conhece, pois nunca se deu ao trabalho de olhar para dentro de si. O nosso seio, irmão, é uma cisterna lôbrega e só depois de se acostumar a vista à penumbra, se arregalarem bem os olhos, é que se consegue enxergar alguma coisa. O que eu fui encontrar nos meus subterrâneos.
Aquilino Ribeiro, “Humildade Gloriosa”