Aquilo que o
antropólogo recorda ao economista, caso ele venha a esquecê-lo, é que o homem
não é pura e simplesmente incitado a produzir cada vez mais. Ele procura
também, no trabalho, satisfazer aspirações que estão enraizadas na sua natureza
profunda: realizar-se como indivíduo.
Claude Lévi-Strauss
(1980-2009), “A Antropologia face aos Problemas do Mundo Moderno”
Citações... Acontece em leituras deparar com a frase perfeita, ou um pensamento elaborado tal qual o sentimos e gostaríamos de escrever, ou o espanto da descoberta de um conceito com o qual passamos a concordar plenamente, ou de uma ideia marcada pela incongruência do tempo, etc! É disso que se trata este blog. Não irei escrever nada de meu mas irei citar (apropriar-me) o que é de outros e que a outros pertence.
sábado, junho 30, 2012
domingo, junho 17, 2012
Pena leve
O curioso
– e peço-lhe que não veja no que vou dizer alusão à sua pessoa – é que não há
ninguém que se não julgue habilitado a manejar a pena. Porquê? Tenho-me
perguntado muitas vezes. Provavelmente devido ao pouco peso do objecto e ainda
à passividade do papel em
branco. Não será isso? Admito também que se escrevam cartas à
prima, cartas que a deixem babadinha de todo, e que resulte daí, para quem as
escreve, bem entendido, não parecer milagre nenhum compor a Arte de Amar, de Ovídio.
Aquilino Ribeiro, “Lápides Partidas”
Aquilino Ribeiro, “Lápides Partidas”
quinta-feira, junho 07, 2012
Altar de Cabrões
Altar de Cabrões, 9 de
Agosto de 1944 – Estou
a mil e quinhentos e trinta e seis metros, perto do céu, a ver o Barroso, o
Marão, a Peneda, a serra Amarela e o Lindoso. Estou sentado num marco que
separa Portugal de Espanha, mas o sítio chama-se Altar de Cabrões e foi, como
se vê, o olimpo de majestades cornudas, a ara de alguns daqueles sagrados
deuses lusitanos, de que só restam nomes e cascos. Cada vez sei menos de rezas
e de santos. Mas quando pressinto pegada de velho Endovélico, tenho logo
vontade de me prosternar e benzer. O catolicismo, sem o Cristo querer, encheu
este mundo de cruzes e água benta. Ora estes nossos patrícios deuses de chifres
eram portadores de uma virilidade mágica, que não nega nem degrada a natureza.
Nada de agonias lentas em madeiros de cedro. Água, frutos, sol, e uma divindade
fundamentada na verdade feiticeira das coisas.
Miguel Torga, “Diário III”
Miguel Torga, “Diário III”
sábado, junho 02, 2012
Tripeiros
Os naturais do
Porto são conhecidos por “tripeiros”, designação que se deve ao sacrifício que
fizeram para apoiar a preparação da armada para a conquista de Ceuta em 1415.
Diz-se que ofereceram aos expedicionários toda a carne disponível ficando
apenas com as tripas.
Suzanne Chantal,
“Ervamoira”
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