terça-feira, julho 25, 2017

mau-olhado


A tia Conceição veio para quebrar o mau-olhado que me deitaram. Reza. Depois, no prato com água, os pingos de azeite boiam. Mas um afunda-se, muda de cor. – Lá vai a bruxa!
J. Rentes de Carvalho, “O Rebate”

sábado, julho 22, 2017

O massacre português de Wiriamu - Moçambique, 1972


«Normalmente», disse ele [Antonino Melo, alferes, comandante das tropas que coordenou e executou esta operação militar], «deslocávamo-nos até à zona… e limpávamos tudo isso.» Era simples. «Para poupar balas, metíamos as pessoas dentro das palhotas, atirávamos uma granada para o interior, trancávamos a porta e pum!» O telhado de capim era projectado no ar, deixava sair o ar quente e sugava oxigénio fresco, tornando a cair e incendiando tudo. Os que não morriam no momento da explosão, pereciam no incêndio.
Mustafah Dhada, “O Massacre Português de Wiriamu – Moçambique, 1972”

segunda-feira, julho 10, 2017

Ler, paixão de sempre!

Sempre entendi que o tempo era curto para tudo o que eu queria fazer. Ou melhor, para tudo o que queria ler. Porque ler foi a minha paixão de sempre. No entanto, por mais que lesse, iam crescendo as pilhas de livros à minha volta como intermináveis torres de Pizza. E eu tremia ao pensar que nunca viveria anos que chegassem para todos os livros e todos os autores que ansiava ler.
Eu lia furiosamente. Na cama, na casa de banho, à mesa do pequeno almoço, do almoço, do jantar. Reduzira as escolhas possíveis de alimentos para cada refeição em função da leitura. Apenas puré, ervilhas, arroz e tudo o que não necessitasse de garfo e faca. Uma mão a segurar o livro que lia, outra a levar a comida à boca.
Fui mais longe ainda. Vendi o carro para me dedicar irremediavelmente à leitura nos transportes públicos. Lia em todas as esperas que foram sendo cada vez mais frequentes no consultório, na farmácia ou no hospital.
José Fanha, “KM 0”