Sempre
entendi que o tempo era curto para tudo o que eu queria fazer. Ou melhor, para
tudo o que queria ler. Porque ler foi a minha paixão de sempre. No entanto, por
mais que lesse, iam crescendo as pilhas de livros à minha volta como intermináveis
torres de Pizza. E eu tremia ao pensar que nunca viveria anos que chegassem
para todos os livros e todos os autores que ansiava ler.
Eu lia
furiosamente. Na cama, na casa de banho, à mesa do pequeno almoço, do almoço, do
jantar. Reduzira as escolhas possíveis de alimentos para cada refeição em
função da leitura. Apenas puré, ervilhas, arroz e tudo o que não necessitasse
de garfo e faca. Uma mão a segurar o livro que lia, outra a levar a comida à
boca.
Fui mais
longe ainda. Vendi o carro para me dedicar irremediavelmente à leitura nos
transportes públicos. Lia em todas as esperas que foram sendo cada vez mais
frequentes no consultório, na farmácia ou no hospital.
José Fanha, “KM 0”
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