quarta-feira, junho 14, 2006

Velho Mundo



Inúmeros amantes se têm abraçado e beijado nos aparados relvados de encostas montanhosas do Velho Mundo, nos musgos das fontes, à beira de córregos higiénicos e adequadamente situados, em bancos rústicos à sombra de carvalhos com o tronco cheio de iniciais e em muitas cabanas noutras tantas florestas de faias. Mas nos ermos da América não é fácil ao amante de ar livre entregar-se ao mais antigo de todos os crimes e passatempos. Plantas venenosas escaldam as nádegas da sua amada, inúmeros insectos picam as suas; coisas aguçadas do solo florestal arranham os joelhos dele, insectos mordem os dela – e por toda a parte há um restolhar contido de potenciais serpentes, enquanto as sementes carangueijiformes de ferozes flores se agarram, numa repugnante crosta verde, a peúgas pretas e com ligas, de homem, e a descambados soquetes brancos.

Vladimir Nabokov, “Lolita”

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