domingo, fevereiro 19, 2012

Dia do Comerciante

Os industriais e os comerciantes sempre foram muito bons a fazer reverter em seu benefício os nossos sentimentos. Habilmente, dirigem as suas campanhas para os momentos críticos do ano, a cuja mitificação ajudam com entusiasmo. Quem comemorava em Portugal, aqui há dez anos, o 14 de Fevereiro, dito Dia dos namorados ou de São Valentim? Era coisa tão nossa como o kilt dos escoceses ou o boomerang dos indígenas da Austrália. Então, alguém se lembrou que o natural desejo de obsequiar o namorado ou a namorada podia converter-se num negócio chorudo, e toca a convencer-nos de que São Valentim tinha nascido ali em Escalos de Baixo e era, pois, portuguesinho de gema. Entendem o que eu quero dizer, suponho.
Depois é o Dia da Mãe, o Dia do Pai, o dia de tudo e mais alguma coisa que possa ser convertido em notas de banco nas caixas registadoras. E nós, que vivemos alegremente nesta sociedade de consumo, vamos comemorando os diferentes dias, os quais perdem gradualmente o seu significado original para se tornarem apenas em dias de dar prendas. Isto é: o Dia do Pai, o Dia da Mãe, o Dia dos Namorados e tutti quanti transformaram-se em Dias do Comerciante todos eles. E nós a ver! E nós a colaborar!» 
A. M. Pires Cabral “Na Província Neva (Crónicas de Natal)”, 1997

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