domingo, março 11, 2012

O mercado global

Árvores cor de canela, fruta dourada.
Mãos acaju embrulham as sementes brancas em grandes folhas verdes.
As sementes fermentam ao sol. Depois, uma vez desembrulhadas, ao ar livre, o sol seca-as e, lentamente, vai-lhes dando uma cor acobreada.
O cacau enceta então a sua viagem sobre o mar azul.
Para passar das mãos que o cultivam às bocas que o comem, o cacau é submetido a tratamento nas fábricas das Cadbury, Mars, Nestlé ou Hershey, e depois é posto à venda nos supermercados do mundo: por cada dólar que entra na caixa, chegam três centavos e meio às aldeias de onde vem o cacau.
Richard Swift, um jornalista de Toronto, deslocou-se ao Gana, a uma dessas aldeias.
Visitou as plantações.
Quando se sentou para descansar, tirou do bolso umas barras de chocolate e antes mesmo de poder dar uma trincadela, uma multidão de crianças curiosas rodeou-o.
Nunca tinham provado. Gostaram muito.
Eduardo Galeano, “Les Voix du temps”, Lux, Montreal, 2011 – tradução de Júlio Henriques [Le Monde Diplomatique – edição portuguesa n.º 62, Dezembro 2011]

Sem comentários: