sábado, maio 19, 2012

Libertar o oprimido e o opressor


Foi durante esses anos longos e solitários que a minha ânsia de liberdade para o meu povo se dilatou numa ânsia de liberdade para todos, brancos e negros. Estava ciente de que o opressor precisava tanto de ser liberto como o oprimido. Um homem que rouba a liberdade a outro homem é um prisioneiro do ódio, está trancado atrás das grades do preconceito e da estreiteza mental. Ninguém é totalmente livre quando rouba a liberdade de outrem, do mesmo modo que não é livre aquele a quem tiram a liberdade. (...) Quando saí da prisão, era essa a minha missão, a de libertar o oprimido e o opressor. Há quem diga que já foi conseguido. Mas sei que não é assim. Na verdade, ainda não somos realmente livres, apenas alcançamos a liberdade de sermos livres, o direito de não sofrer a opressão. Não demos o último passo do nosso percurso, apenas o primeiro de um caminho mais longo e ainda mais penoso. Porque ser livre não é apenas quebrar as correntes, mas viver uma vida que respeite e estimule a liberdade dos outros. O verdadeiro teste da nossa dedicação à liberdade ainda mal começou. Tenho vindo a trilhar esse longo caminho para a liberdade. Procurei não vacilar, embora ao longo do percurso tenha dado passos em falso. Mas descobri que depois de subirmos uma montanha percebemos que continua a haver muitas montanhas por transpor. Aproveito o momento para descansar, apreciar a vista esplendorosa que me rodeia, para olhar para trás, a contemplar o caminho já percorrido. Mas só posso descansar por um momento, pois a liberdade traz consigo responsabilidades e não me atrevo a parar, pois o meu longo caminho ainda não terminou.
Nelson Mandela, “Um Longo Caminho para a Liberdade”

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