Ao escrever, e
independentemente do valor do que escrevo, tenho às vezes a vaga consciência
que contribuo, embora modestamente, para o aperfeiçoamento desta terra onde um
dia nasci para nela morrer um dia para sempre.
Ruy Belo, “Breve Programa
para Uma Iniciação ao Canto – Transporte no Tempo” (1973)
Citações... Acontece em leituras deparar com a frase perfeita, ou um pensamento elaborado tal qual o sentimos e gostaríamos de escrever, ou o espanto da descoberta de um conceito com o qual passamos a concordar plenamente, ou de uma ideia marcada pela incongruência do tempo, etc! É disso que se trata este blog. Não irei escrever nada de meu mas irei citar (apropriar-me) o que é de outros e que a outros pertence.
sexta-feira, agosto 31, 2012
segunda-feira, agosto 27, 2012
Há 40 anos, Allende...
Estamos a assistir
a um conflito frontal entre as grandes empresas transnacionais e os Estados.
Estes últimos vêem-se parasitados nas suas decisões essenciais, políticas,
militares, económicas, por organizações mundiais que não dependem de nenhum
Estado e não respondem pelos seus actos perante nenhum Parlamento nem perante
nenhuma instituição que seja garante do interesse colectivo. Numa palavra, é
toda a estrutura política do mundo que está a ser minada.
Salvador Allende, no
discurso que pronunciou na Assembleia Geral das Nações Unidas em 4 de Dezembro
de 1972
quinta-feira, agosto 23, 2012
Como os livros chegam até nós...
De vez em quando,
faço um pequeno exercício. Levanto-me do sofá, olho para as estantes da sala e
tento lembrar-me do que me levou até um determinado livro, ou do que o trouxe
até mim. Há romances enviados pelas editoras; volumes de poesia comprados em
livraria independentes (algumas já falidas); literatura estrangeira que chegou
um dia pelo correio, embrulhada no cartão da Amazon. Mas o que me levou
concretamente a escolher aquela obra, aquele autor? Na maior parte dos casos, a
resposta é óbvia. Escolhi-os porque sim. Porque um clássico é um clássico.
Porque dos escritores preferidos queremos sempre a obra completa. Porque alguém
nos diz à mesa do café: «Tens mesmo de ler isto.» Mas também há livros que não
sei de onde vieram, por que raio acabaram cá em casa, no meio dos outros. Alguém
mos emprestou? Não faço ideia. Quando dou por eles, têm o ar comprometido dos
passageiros clandestinos.
José Mário Silva, “Ler –
Livros e Leitores” n.º 114, Junho 2012
domingo, agosto 19, 2012
Mariposo
«Quando o mariposo
lavrar quarenta pousadas e colher um carro de milho e três rasas de feijão, que
é o comum para a matença de uma pessoa que tem os dentes todos, e der à tosquia
dez ovelhas, que lhe dêem lã para uma capucha e dois pares de coturnos, que te
venha buscar. Antes, nem num andor.»
Aquilino Ribeiro,
“Volfrâmio”
sábado, agosto 11, 2012
Do camponês
Coimbra, 12 de Dezembro de 1949 – Encaixar o insucesso e retomar a rabiça
com redobrada energia – eis a grande força e a grande lição do camponês. A vida
para ele não é tanto colher, como semear. A lançar à terra energia viva, sonho
sem joio, é que a sua humanidade se justifica. O resto é com os elementos, que
ora cobrem a seara da bênção dum sol fecundante, ora a percorrem na estúpida
fúria da destruição.
Miguel Torga, “Diário V”
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