Na verdade todos os
bons poetas que escrevem obras épicas não o são devido a uma arte, antes estão
inspirados e possuídos quando compõem todos esses belos poemas; e o mesmo se
passa com os bons poetas líricos; estes não se encontram na sua devida razão
quando compõem os seus belos poemas (...). Logo que ascendem na sua harmonia e
no seu ritmo, ficam transformados e possuídos (...). Pois o poeta é uma coisa
leve, alada, sagrada; não pode ele criar poesia antes de sentir inspiração,
estar fora de si mesmo e perder o uso da mente (...). Não é, pois, devido à
arte que fazem poesia (...) mas por graça divina; assim, a única poesia que
cada um é capaz de fazer é da Musa que o possui (...). Estes belos poemas não
são humanos, não são criados pelo homem, mas divinos e criados por Deus; e os
poetas não são mais do que intérpretes de Deus (...).
Platão, “Sócrates e Íon de
Éfeso”
Citações... Acontece em leituras deparar com a frase perfeita, ou um pensamento elaborado tal qual o sentimos e gostaríamos de escrever, ou o espanto da descoberta de um conceito com o qual passamos a concordar plenamente, ou de uma ideia marcada pela incongruência do tempo, etc! É disso que se trata este blog. Não irei escrever nada de meu mas irei citar (apropriar-me) o que é de outros e que a outros pertence.
segunda-feira, fevereiro 15, 2016
terça-feira, fevereiro 02, 2016
os viajados e os viajantes
Segundo um viajante
que conheço, há dois tipos de viandantes: os viajados e os viajantes. Os
viajados coleccionam lugares, somam monumentos, vão marcando países com
pioneses no mapa da memória. Paris vale pela França, Pequim por toda a China e
um safari no Quénia quase a África inteira. O avião é o modo de locomoção
preferido: importa é chegar. Quando chega, o viajado confirma com uma
fotografia a existência do que conhecera pela fotografia, e dispara sobre a
Torre Eiffel, a muralha da China ou os elefantes. Por seu lado, os viajantes é
espécie muito distinta: não lhes interessa chegar, mas demorar-se. Demoram a
partir. E muitas vezes demoram a chegar. Andam a pé, de bicicleta, quando
muito. Os viajantes deambulam. Não vão ver se as coisas estão no sítio.
Interessa-lhes o que está fora do sítio.
Maria Luísa Malato, “As
Artes Entre As Letras” n.º 163
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