Segundo um viajante
que conheço, há dois tipos de viandantes: os viajados e os viajantes. Os
viajados coleccionam lugares, somam monumentos, vão marcando países com
pioneses no mapa da memória. Paris vale pela França, Pequim por toda a China e
um safari no Quénia quase a África inteira. O avião é o modo de locomoção
preferido: importa é chegar. Quando chega, o viajado confirma com uma
fotografia a existência do que conhecera pela fotografia, e dispara sobre a
Torre Eiffel, a muralha da China ou os elefantes. Por seu lado, os viajantes é
espécie muito distinta: não lhes interessa chegar, mas demorar-se. Demoram a
partir. E muitas vezes demoram a chegar. Andam a pé, de bicicleta, quando
muito. Os viajantes deambulam. Não vão ver se as coisas estão no sítio.
Interessa-lhes o que está fora do sítio.
Maria Luísa Malato, “As
Artes Entre As Letras” n.º 163
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