domingo, março 24, 2019

da construção...

Alguém que se preze e esteja no uso atilado das suas faculdades mentais, andará porventura aos bordos pelas ruas da cidade, sairá de casa em trajes menores para ir tratar dos seus negócios, dirigirá insultos às pessoas desconhecidas por quem for passando? Esperemos que não. E, no entanto, há casas que parecem empenhadas em nos mostrar o destrambelho das suas disposições; fachadas que agridem os nossos olhos com o disparate das formas e das cores; macaquices à laia de ornamentações; janelas que são esgares; portas de expressão tão alvar que, quando abertas, só esperamos que delas saia alguma asneira... e tudo isto se tolera, e ninguém vai preso – nem donos, nem construtores. Bem sabemos que a tolice e a ignorância são úteis até certo ponto; por elas as virtudes opostas melhor se realçam; o mal está em que as obras que deviam exercer influência educativa no sentimento do público, sejam entregues ao livre arbítrio de tais espíritos de negação!
Raul Lino, “Casas Portuguesas – alguns apontamento sobre o arquitectar das casas simples” (1933)


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