segunda-feira, junho 21, 2021

Cabo Verde não é África!

 

Quando chega no aviom à África que lhe venderam na passagem aérea, tam cara, o primeiro impulso do européu é pedir a folha de reclamaçom: “Desculpe mas isto aqui nom é África. Eu tirei um bilhete para África. Pode-me dizer para onde fica?”. No bar da coqueta terminal aérea pode ver o Sumol, o Português Suave, os ovos moles de Tentúgal, a cerveja Sagres, e no ecrãn da TV, o jogo do Sporting contra o Porto. Tudo o que tem rótulo apela-nos com familiaridade e provoca o espelhismo de que chegamos a unha jangada na que se prolonga Europa. É a segunda máscara de Cabo Verde. A de que nom é um lugar novo, a de que te tivérom numha caixa troupeleando unhas horas para simular a viagem e estás no mesmo lugar, no velho mundo. A beber cerveja e a comer tremoços.

Quico Cadaval, prefácio de “O Resto é Céu” de silvia penas

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