Quando chega no
aviom à África que lhe venderam na passagem aérea, tam cara, o primeiro impulso
do européu é pedir a folha de reclamaçom: “Desculpe mas isto aqui nom é África.
Eu tirei um bilhete para África. Pode-me dizer para onde fica?”. No bar da
coqueta terminal aérea pode ver o Sumol, o Português Suave, os ovos moles de
Tentúgal, a cerveja Sagres, e no ecrãn da TV, o jogo do Sporting contra o
Porto. Tudo o que tem rótulo apela-nos com familiaridade e provoca o espelhismo
de que chegamos a unha jangada na que se prolonga Europa. É a segunda máscara
de Cabo Verde. A de que nom é um lugar novo, a de que te tivérom numha caixa
troupeleando unhas horas para simular a viagem e estás no mesmo lugar, no velho
mundo. A beber cerveja e a comer tremoços.
Quico Cadaval, prefácio
de “O Resto é Céu” de silvia penas
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