sábado, janeiro 01, 2022

dos aeroportos

O comissário teve tempo para inspeccionar Schiphol e teria ainda mais tempo para inspeccionar Orly, ele que detestava aeroportos. Não tinham humanidade nenhuma. As estações de caminho de ferro eram civilizadas; os aeroportos, não. O ser humano era arrebanhado e importunado, carimbado e rotulado, esprimido através dos subterrâneos como pasta de dentes através de uma bisnaga e, finalmente, encapsulado num abjecto e caríssimo tùnelzinho, a fim de um computador calcular, até ao último miligrama, o lucro a obter. A falta de dignidade era tanta que um indivíduo até aceitaria as condições de um matadouro mais humano e suave, onde lhe dessem um copinho de gin antes de o submeterem à eutanásia. O pior de tudo era a ficção de que os aeroportos se esforçavam por proporcionar os requintes de luxo a quem os utilizava.

Os aeroportos davam-lhe sempre o desejo de estar em Cuba.

Nicolas Freeling, “Herança de Um Inferno”



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