sexta-feira, setembro 23, 2011

O kriol guineense

O crioulo da Guiné teve origem na língua portuguesa falada entre os séculos XV e XVII. Tornado idioma veicular das diversas populações da Guiné-Bissau, nele se misturam e confundem a vida e a memória de uma infinidade de locutores-transmissores, num espaço onde todos põem tudo e onde a escrita, por enquanto, não tem lugar.
Uma língua em gestação persegue a economia. Mas uma língua em liberdade não tem pressa e deixa que o excesso se espraie em todas as direcções, já que a eficácia da comunicação é assegurada por instâncias não linguísticas. Ao lado e antes das palavras, está a plena proximidade que não permite equívocos nem produz ruídos: o calor, a mímica, o contacto físico fazem soçobrar as regras já erigidas noutros lugares. (...)

O conto crioulo é um milagre sempre recomeçado. Miragem dos grandes e dos pequenos, realidade para todos e apesar de tudo, ele transforma o verbo em júbilo pela magia de uma língua mutante, feita de raízes africanas e europeias e de palavras mestiças.
Filho da mistura, o conto crioulo faz viver a palavra e vive da palavra que anima personagens familiares. Sejam eles Caçador, Feiticeiro, Combossa, Pauteiro, Bajuda submissa ou rebelde, estes arquétipos articulam-se segundo esquemas dinâmicos.
Teresa Montenegro e Carlos de Morais, “Uori – stórias de lama e philosophia”, Ku Si Mon editora

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