domingo, novembro 27, 2011

O tio da América


E aqui te declaro: boa, boa fortuna são os braços rijos e a alma escorreita. A outra, de fazendas e capitais, também conta, não digo que não. Mas para a gente apreciar quanto vale, saber saboreá-la como limão espremido na água quando se tem sede, saber defendê-la dos baldões da sorte, forçoso é que a tenhamos amassado por nossas mãos. Essas que desabam das nuvens, vêm por um tio da América, a lotaria ou a vermelhinha, arrenego delas. O azar as deu, o azar as leva. Sou tão ignorante como tu, mas capacito-me que trazem consigo mandinga, qualquer princípio inflamável e, às duas por três, ardem nas mãos, nos cofres, no que estejam empregadas, para não quedar mais do que cinzas e fumo no ar.
Aquilino Ribeiro, “A Batalha Sem Fim” (1930-1931)

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