O jagudi é uma ave
curiosa. A parecer feita de várias outras aves. Bico recurvado de papagaio.
Olhos vivos de falcão. Cabeça de galo a que amputaram a crista. Pescoço
enrugado de peru em véspera de Natal. Corpo avantajado de avestruz, de penas
sem brilho e de cor indefinida. Pernilongo como um flamingo, mas com aceradas
garras de águia imperial. Anda no chão como se fosse um marinheiro nunca vindo
a terra. Em contrapartida, na Guiné é rei dos céus, onde paira, elegante, especialmente
enquanto o sol não transforma a manhã amena no inferno do meio-dia. É o mais
eficiente dos funcionários municipais. Ocupa-se da limpeza da via pública e não
há ponta de lixo que não atraia a sua visão de excepção. Lixo por ele removido,
diligentemente, e levado para o ninho, dando às ruas e jardins o ar asseado da
manhã.
Magalhães Pinto, “Os Heróis
e o Medo”
Citações... Acontece em leituras deparar com a frase perfeita, ou um pensamento elaborado tal qual o sentimos e gostaríamos de escrever, ou o espanto da descoberta de um conceito com o qual passamos a concordar plenamente, ou de uma ideia marcada pela incongruência do tempo, etc! É disso que se trata este blog. Não irei escrever nada de meu mas irei citar (apropriar-me) o que é de outros e que a outros pertence.
sábado, julho 28, 2012
sábado, julho 14, 2012
O vinho dos deuses
Com um gesto lento,
virou o copo e deitou as últimas gotas de vinho na terra seca, que as bebeu
avidamente. Era o gesto antigo para aplacar os deuses, e que no o Douro ninguém
ousava esquecer nas noites ameaçadoras, quando o céu obscurecia por cima dos
vinhedos.
Suzanne Chantal,
“Ervamoira”
quinta-feira, julho 12, 2012
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