O jagudi é uma ave
curiosa. A parecer feita de várias outras aves. Bico recurvado de papagaio.
Olhos vivos de falcão. Cabeça de galo a que amputaram a crista. Pescoço
enrugado de peru em véspera de Natal. Corpo avantajado de avestruz, de penas
sem brilho e de cor indefinida. Pernilongo como um flamingo, mas com aceradas
garras de águia imperial. Anda no chão como se fosse um marinheiro nunca vindo
a terra. Em contrapartida, na Guiné é rei dos céus, onde paira, elegante, especialmente
enquanto o sol não transforma a manhã amena no inferno do meio-dia. É o mais
eficiente dos funcionários municipais. Ocupa-se da limpeza da via pública e não
há ponta de lixo que não atraia a sua visão de excepção. Lixo por ele removido,
diligentemente, e levado para o ninho, dando às ruas e jardins o ar asseado da
manhã.
Magalhães Pinto, “Os Heróis
e o Medo”
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