No
presente o povo de S. Vicente é sem dúvida o mais livre de Cabo Verde,
liberdade que lhe advém do total despojamento que se pode surpreender nas
novelas de Aurélio Gonçalves, o escritor que mais atentamente procurou entrar
na alma de uma gente que vive o desencanto com mais alegria que fatalismo. Marx
que poderia ter estado a pensar nesta cidade quando escreveu acerca dos
proletários que nada têm a perder e um mundo inteiro a ganhar, com a diferença
de que este povo sabe que não tem mais nada a ganhar para além do que consegue
para o seu passadio diário. Mas é isso mesmo que faz dele um povo de
anarquistas, impossível de ser contido à volta de um qualquer ideal, a menos
que o limite desse ideal não ultrapasse o imediato, porque mais
inconscientemente que consciente, ele aprendeu à sua custa que o amanhã ou não
lhe pertence ou pode ser bem pior que o hoje, e por isso pouco se preocupa com
ele.
Germano
Almeida, “Viagem Pela História de S. Vicente”Citações... Acontece em leituras deparar com a frase perfeita, ou um pensamento elaborado tal qual o sentimos e gostaríamos de escrever, ou o espanto da descoberta de um conceito com o qual passamos a concordar plenamente, ou de uma ideia marcada pela incongruência do tempo, etc! É disso que se trata este blog. Não irei escrever nada de meu mas irei citar (apropriar-me) o que é de outros e que a outros pertence.
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