... virou para mim
um olhar interrogativo: que estória é essa das pedrinhas, nunca ouvi falar,
disse. Serafim é que conta, defendi-me cauteloso, ouvido do teu avô Frederico
que diz ter ensinado a Pedro Trago esse método artesanal de conquistar as pequenas.
Segundo ele Pedro já estava desesperado para namorar Dora e então Frederico
explicou-lhe que quando um rapaz está interessado numa pequena e deseja saber
se ela alinha na sua conversa, vai de manhã cedo à ourela do mar, antes do sol
sair, e escolhe três pedrinhas redondas, duas pretas e uma branca. Embrulha-as
bem embrulhado num lenço de mão branco e deixa-as um bom bocado debaixo do
sovaco, até ficarem com o cheiro do corpo do seu dono. Depois arranja uma
oportunidade de maneira a poder atirá-las uma a uma ao regaço da escolhida.
Primeiro uma preta, depois a branca e a seguir a outra preta. Se em resposta
ela devolver uma pedra preta, paciência, nada feito, quer dizer que não está
interessada. Se ficar com elas brincando nas mãos sem devolver nenhuma, quer
dizer que está a pensar no assunto, o outro tem é que esperar com calma porque
nada está perdido. E se por boa sorte ela logo devolver a branca, não só está a
dizer que está interessada como também que o namoro ficou firme desde aquele
momento.
Germano Almeida, “A Família
Trago”
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