domingo, junho 17, 2018

as três pedrinhas


... virou para mim um olhar interrogativo: que estória é essa das pedrinhas, nunca ouvi falar, disse. Serafim é que conta, defendi-me cauteloso, ouvido do teu avô Frederico que diz ter ensinado a Pedro Trago esse método artesanal de conquistar as pequenas. Segundo ele Pedro já estava desesperado para namorar Dora e então Frederico explicou-lhe que quando um rapaz está interessado numa pequena e deseja saber se ela alinha na sua conversa, vai de manhã cedo à ourela do mar, antes do sol sair, e escolhe três pedrinhas redondas, duas pretas e uma branca. Embrulha-as bem embrulhado num lenço de mão branco e deixa-as um bom bocado debaixo do sovaco, até ficarem com o cheiro do corpo do seu dono. Depois arranja uma oportunidade de maneira a poder atirá-las uma a uma ao regaço da escolhida. Primeiro uma preta, depois a branca e a seguir a outra preta. Se em resposta ela devolver uma pedra preta, paciência, nada feito, quer dizer que não está interessada. Se ficar com elas brincando nas mãos sem devolver nenhuma, quer dizer que está a pensar no assunto, o outro tem é que esperar com calma porque nada está perdido. E se por boa sorte ela logo devolver a branca, não só está a dizer que está interessada como também que o namoro ficou firme desde aquele momento.
Germano Almeida, “A Família Trago”

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