terça-feira, outubro 20, 2009

Pena de escrever


Aquela manta e aqueles farrapos pendurados num prego fediam a bedum, a leite e a sangue. Estes sapatos de boca aberta, aos pés da cama, acabavam de mexer-se com o bafo de um boi estendido na erva e, no sebo com que o sapateiro os engraxava, grunhia um porco sangrado até à última gota. Por toda a parte havia morte violenta, tal como um matadouro ou num recinto patibular. Um pato degolado grasnava na pena que iria servir para traçar em velhos pergaminhos ideias julgadas dignas de perdurar para sempre.
Marguerite Yourcenar, “A Obra Ao Negro”

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