quarta-feira, novembro 10, 2010

Leituras


No capítulo 32 do primeiro tomo do Dom Quixote, o estalajadeiro, que deu uma cama ao herói esgotado para passar a noite, debate com o padre os méritos dos romances de cavalaria, argumentando que é incapaz de ver em que é que tais livros poderiam fazer perder a cabeça a alguém. «Não sei como é que isso pode acontecer», grita o estalajadeiro; «porque, na verdade, não conheço no mundo uma melhor leitura. Tenho dois ou três livros que me devolveram a vida, não só a mim como a muitos outros. No tempo da ceifa, muitos ceifeiros vê-se reunir aqui nos dias de festa, e, entre eles, há sempre alguém que sabe ler e esse pega num dos livros e colocamo-nos mais de trinta à sua volta, e ficamos a escutá-lo com tanto prazer que nos tira mais de mil cabelos brancos.»
Alberto Manguel

1 comentário:

Jorge Manuel Brasil Mesquita disse...

O prazer de se ler, advém de se aprender a ler o prazer das palavras que nos cativam e nos abraçam com os sonhos da imaginação em liberdade.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 13/11/2010