domingo, agosto 21, 2011

Um café!

Certo dia, explodiu numa grande danação contra o neto, que à viva força teimava que ela havia de beber café. «Posso lá com tal bebida!», gritou-lhe o Costa Cardoso. «Uma planta que só nasce em zonas doentias da África e do Brasil, onde se morre de febres medonhas! E o grão? Quantos trabalhos para trazê-lo, ao lombo, sob o fogo do Sol, até à Costa? Quantos trabalhos para embarcá-lo, atravessar as tempestades do oceano, desembarcá-lo, torrá-lo, moê-lo. Pois, após tantas canseiras, tantas, mal mergulham o pó na cafeteira, zás, deitam-no fora! E essa mixórdia deixa a água tão suja e amarga que só com açúcar conseguem bebê-lo! Não! Nunca hei-de tocar-lhe sequer!»
Manuel da Fonseca, “À Lareira, nos Fundos da Casa onde o Retorta Tem o Café”

Sem comentários: