O clero português, mesmo aquele que sai dos seminários todo cheio de tomismo e liturgia, em arte é de uma ignorância imensurável. Vá o meu querido doutor por essas igrejas fora. As imagens do Sagrado Coração de Jesus e do Coração de Maria, de Nossa Senhora de Lurdes, do Santo Condestável e da Nossa Senhora de la Salette, duma pulcritude reles, desbancaram as velhas imagens cheias de séculos, góticas tantas vezes. Por outra, como estas parecem feias, sem beleza celestial, entregam-nos ao imaginário, que as desbasta, alinda, ou simplesmente avilta sob a encarnação acatitada. Os templos românicos, que abundam por esta província, foram demolidos para dar lugar à igreja alta, sem graça nem estilo, género telheiro de fábrica. Os padres queimam os velhos paramentos, brocados do Renascimento, chamalotes que são maravilhas de tecelagem, porque estão velhos! Por modos autoriza-os o ritual.
Aquilino Ribeiro, “O Homem Que Matou o Diabo”
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