quarta-feira, dezembro 05, 2012

Tudo são homens


Vila Nova, 18 de Março de 1936 – «Cavam de sol a sol, comem um caldo, mas são felizes. Não têm preocupações...»
Ouço isto na cidade e meto-me no comboio, indignado. Que estupidez! Como se o problema da quadratura do círculo fosse maior do que o problema de saber se chove ou não chove no dia sementeira. Que vale um boi, no café? Em termos de pura dor – nada. Pois digo que nunca vi ninguém sofrer tanto como o meu vizinho a quem morreu um esta noite.
Sei a resposta: que quem sofre por uma ideia bebe, digamos, o sofrimento na sua forma mais pura.
Que me importa a mim! Tudo são homens. E ao cabo, ao cabo, tanto pesa uma arroba de terra, como uma arroba de filosofia.
Miguel Torga, “Diário I”

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