Vila Nova, 18 de Março de 1936 – «Cavam de sol a sol, comem um caldo, mas
são felizes. Não têm preocupações...»
Ouço isto na cidade
e meto-me no comboio, indignado. Que estupidez! Como se o problema da
quadratura do círculo fosse maior do que o problema de saber se chove ou não
chove no dia sementeira. Que vale um boi, no café? Em termos de pura dor –
nada. Pois digo que nunca vi ninguém sofrer tanto como o meu vizinho a quem
morreu um esta noite.
Sei a resposta: que
quem sofre por uma ideia bebe, digamos, o sofrimento na sua forma mais pura.
Que me importa a mim! Tudo
são homens. E ao cabo, ao cabo, tanto pesa uma arroba de terra, como uma arroba
de filosofia.Miguel Torga, “Diário I”
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