Era minha amiga,
íntima paca. Eu fazia o que queria com ela, pelo simples fato que deixava ela
fazer o que queria comigo. Foi vindo e indo, a coisa. Um dia percebemos que
estávamos apaixonados, a palavra e eu. Que eu podia procriar nela: e ela deixava.
Era uma arma de fazer coisas quase indizíveis. Se chamava, acho, precisão.
Juntos, ela e eu, nos colocamos a serviço das coisas tão essenciais, que nos
doíam. Pelo supremo orgulho de ninguém nos entender e à nossa comunhão. E aí
nos sentámos e escrevemos, com precisão científica, vendo como queríamos, como
ía o mundo, no exato ponto ótico em que vivíamos...
Millôr Fernandes, “Flávia,
cabeça, tronco e membros”

2 comentários:
Sem tradução!
A palavra dele
Enviar um comentário