Sustado no meio do
seu desenvolvimento, Portugal nunca pôde na administração pública compensar a
receita com a despesa, nem economicamente estabelecer o equilíbrio entre a
produção e o consumo, de forma a tornar-se um organismo, satisfazendo-se todas
as exigências da vida social. Por isso, sucedem-se amiúde as catástrofes que a
população expia em silêncio; por isso, os melhores tempos são sempre duma
prosperidade aparente, porque dependem de condições fortuitas, fora da sua
acção.
Alberto Sampaio, “Ontem e
Hoje”, 1892
Citações... Acontece em leituras deparar com a frase perfeita, ou um pensamento elaborado tal qual o sentimos e gostaríamos de escrever, ou o espanto da descoberta de um conceito com o qual passamos a concordar plenamente, ou de uma ideia marcada pela incongruência do tempo, etc! É disso que se trata este blog. Não irei escrever nada de meu mas irei citar (apropriar-me) o que é de outros e que a outros pertence.
terça-feira, fevereiro 12, 2013
domingo, fevereiro 10, 2013
Homens superiores!
Eu compreendo o
pessimismo de certos homens superiores e o seu desdém pela opinião das
maiorias. Compreendo a misantropia de certas criaturas dotadas de superioridade
intelectual ou moral. (...) As maiorias são a mediocridade, o tipo médio de uma
dada época. O homem superior sendo o esboço, o embrião, a síntese individual,
de uma época futura, não pode furtar-se de quando em quando pelo menos, a um
sentimento de desprezo pelos homens, pela massa comum da humanidade, pelas
maiorias em suma. A
razão das maiorias é uma força conservadora, a razão dos homens superiores é uma
força criadora. (...)
O direito dos
homens superiores, das minorias criadoras, inteligentes e cultas, é proclamar a
verdade. O direito das maiorias é discuti-la e valorizá-la pela resistência.
(...)
No futuro triunfam
sempre as minorias; a minoria progressiva nas sociedades que avançam e vivem, a
minoria regressiva nas sociedades que recuam e morrem.
Manuel Laranjeira, «Os
Homens Superiores na Selecção Social», A Águia (1.X.1910)
quarta-feira, fevereiro 06, 2013
Rimando
Lá vai o rato
- que pelitrapo! –
a fugir ao gato
pelo meio do mato,
dizendo gaiato:
- Ó mentecapto,
desta bem escapo!
Mas o gato,
nada abstracto,
fino velhaco,
não dá cavaco.
Sem espalhafato
arranja um saco,
feito de trapo,
e um saca-trapo.
No mesmo acto
encontra o sapo,
que ía prò Buçaco
e diz imediato:
- Ò meu beato,
pega-me do saco.
Não sejas pato!
Olha que te mato,
dou com o taco
ou com o sapato,
esfolo, escavaco,
faço num farrapo.
Pega-me no saco,
ganhas um pataco,
comes um naco...
Vai o sapo,
pessoa de tacto
e de recato,
em seu monacato,
a evitar pugilato,
pegou no saco.
E o gato,
barbato,
com o saca-trapo,
rapo que rapo,
tirou o rato
do buraco,
caverna do Caco.
Depois, jenipapo,
o nosso gato,
sem se importar do
sapo
todo timorato,
nada Viriato,
com horror do
facto,
dispensando prato,
sem guardanapo,
nem aparato,
contente e guapo
mais que o
Fortunato
debaixo do cacto,
- corpo di Bacco! –
meteu-o no papo.
Aquilino Ribeiro, “Cinco
Réis de Gente”
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