quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Rimando


Lá vai o rato
- que pelitrapo! –
a fugir ao gato
pelo meio do mato,
dizendo gaiato:
- Ó mentecapto,
desta bem escapo!
Mas o gato,
nada abstracto,
fino velhaco,
não dá cavaco.
Sem espalhafato
arranja um saco,
feito de trapo,
e um saca-trapo.
No mesmo acto
encontra o sapo,
que ía prò Buçaco
e diz imediato:
- Ò meu beato,
pega-me do saco.
Não sejas pato!
Olha que te mato,
dou com o taco
ou com o sapato,
esfolo, escavaco,
faço num farrapo.
Pega-me no saco,
ganhas um pataco,
comes um naco...
Vai o sapo,
pessoa de tacto
e de recato,
em seu monacato,
a evitar pugilato,
pegou no saco.
E o gato,
barbato,
com o saca-trapo,
rapo que rapo,
tirou o rato
do buraco,
caverna do Caco.
Depois, jenipapo,
o nosso gato,
sem se importar do sapo
todo timorato,
nada Viriato,
com horror do facto,
dispensando prato,
sem guardanapo,
nem aparato,
contente e guapo
mais que o Fortunato
debaixo do cacto,
- corpo di Bacco! –
meteu-o no papo.
Aquilino Ribeiro, “Cinco Réis de Gente”

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