8 de Agosto [1908] –
O mar. Estas ondas verdes, azuis, brancas, que monotonamente vemos passar fazem
sobre o espírito um trabalho de lima, despersonalizando-nos, podam-nos o relevo
da própria presença humana. Fica-se embasbacado, fascinado, dominado. Talvez
isso explique que a única posição do homem perante o mar tenha sido de simples
contemplação.
O mar inumerável,
sempre mutável, esgota a nossa fantasia. E quando sentimos esse esgotamento
encontramos o mar idêntico, liso, monótono, igual. Através do primeiro momento,
o mar domina-nos e dá-nos prazer. Através do segundo, angustia-nos e
provoca-nos um mal-estar impreciso, vago.
Para quebrar este
jogo teríamos que encontrar a palavra justa e compreensiva para o mar... mas
assim que pensamos que a temos, escapa-se-nos como se fosse uma rajada de vento
ou o caracol voluptuoso e fugaz de uma onda.
Josep Pla, “O
Caderno Cinzento”
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